quarta-feira, fevereiro 07, 2007

A Realidade Ultra Real...

Ontem, após assistir ao esquisito Who Wants To Be A Superhero e ficar realmente envolvida com essa baboseira, comecei a refletir na multiplicação mega absurda do número de Reality Shows nos últimos anos... Lá no período cretácio da telinha, Ed Sullivan e Allen Funt eram uns dos únicos ícones de um programa de realidades.
O "The Ed Sullivan Show" tinha espaço para entrevistas e performances das celebridades convidadas: Elvis, Beatles, Rolling Stones foram os ilustres nessas quase três décadas de programa...Isso era a realidade televisiva de, ao meu ver, o primeiro Reality Show da história da televisão. Pelo menos o primeiro que fazia jus ao nome.
Já Allen Funt também inovou, criando um programa de Candid Camera, ou câmera escondida, em que pessoas comuns eram vistas e retratadas em situações inusitadas, sem ter idéia de que havia uma câmera gravando suas reações às cenas ridículas das quais participavam.
Mais tarde Allen Funt e Ed Sullivan foram seguidos por outros..Bob Newhart, Johnny Carson, Milton Berle (esse aí mais ou menos..), Martha Stewart, David Letterman, Jay Leno e quem diria, Jerry Springer, fazendo com que esses programas ficassem conhecidos como "Shows de Variedades", perdendo o status (na época sem definição) de "reality show".
Tudo certo, tudo bem, até chegar a PBS com "An American Family" em 1973, dois anos depois do final do programa de Sullivan.
O formato do novo programa da PBS, assim como qualquer programa inovador, tinha tudo para falhar...Quem queria ficar acompanhado uma série que contava a vida da típica família americana dos Loud? Aparentemente uma pá de gente. A crítica considerava o programa irrealista, frio e não carísmático (exemplo de que poucas coisas mudaram...tanto a crítica quanto o produto), mas as 12 semanas que se sucederam na exibição do programa foram umas das mais importantes na história da televisão. Nessas doze semanas a família retratada encarou um divórcio e uma revelação homossexual no meio do clã...Controverso? só para resumir...Mas then again não havia xingamentos, choros, porradas, barracos, nada disso. As 24 horas por dia na vida dos Loud (e que nome mais propício!) tinham o intuito de retratar uma típica família americana no auge do imperialismo estadunidense...Mais uma vez o conceito de Reality Show foi levado ao pé da letra. E, convenhamos, que família já não enfrentou problemas como esses?
Depois das doze semanas de choque e inovação televisiva, se não contarmos concursos de Miss, o modelo de programa só apareceu de novo em 1989...16 anos depois de Family...A série era COPS (que segue viva até hoje), um documentário que retratava as atividades policiais, tirando todo o glamour dos crimes e colocando a polícia no papel de discretos heróis de azul. Toda semana na FOX tínhamos o prazer (?) de acompanhas batidas policiais, perseguições e prisão dos caras malvados, por fim: Um retrato fiel do caos. Pronto, estamos nos aproximando da definição atual de "Reality Show". Seguindo três anos depois, em 1992, um reality show não somente cutucou o espectador americano com simplesmente mudou a história da televisão...Uma emissora adolescente sem pretensão alguma resolveu lançar um programa em que jovens diferentes deveriam dividir uma casa e aprender a viver em sintonia.

This is the true story, of seven strangers, picked to live in a house, work together and have their lives taped, to find out what happens, when people stop being polite, and start getting real.

O programa? The Real World...A turma inusitada deveria encontrar trabalho, viver em harmonia e...só. Exatamente, só. Não havia eliminações, prêmios, castigos, conversas com os apresentadores, nada disso. Era um simples retrato da juventude diversificada em uma cidade norte-americana (e algumas vezes em outros países com India e Nepal). Com o sucesso de Real World, a MTV começou a ser vista com outros olhos e se empolgou com a idéia, criando mais tarde o Road Rules (pé na tábua) e outros tantos, já distantes da tradução ao pé da letra de Reality TV...
Tudo muito bom, tudo muito bem até que o espírito de Geoge Orwell chegou para nos assombrar 50 anos após sua morte. O programa? Big Brother. Estranhos seriam confinados em uma casa, 24 horas por dia, com câmeras em todos os cantos, tentado conviver amigavelmente enquanto brigavam por um prêmio em dinheiro. A aposta? Barracos, Beijos, Guerras, TPM's, Tensões, Penas, Abraços, Problemas etc...estariam prestes a acontecer a qualquer minuto. O estilo de programa? Reality TV. Tv tudo bem, mas reality? Quando que isso iria acontecer em sua vida? Quando você está num Candid Camera em uma situação altamente improvável, a coisa acaba sendo perdoada, pois suas reações sobre o acontecimento são reais. Quando se sabe que você está sendo testado, filmado e assistido por milhões de pessoas que vão te julgar, você não é mais real. você só está aparecendo na TV.
Seguindo a linha de Big Brother, o reality show (agora sim com a definição atual) de maior sucesso de todos os tempos, surgiram Survivor, The Surreal Life, Casa dos Artistas etc... Séries de pessoas presas a um local, com câmeras de vigia.
Outros foram mais longe, pegando pessoas comuns em situações extraordinárias de competição: American Idol, America's Next Top Model, Who Wants to be a Superhero, Deal or No Deal, America's Next Inventor, Fear Factor, Amazing Race, Treasure Island, Project Runaway, Blowout, Queer Eye, Project Greenlight, Making The Band, Rock Star: Supernova, enfim...Milhares. Alguns inteligentes e bacanas como Project Greenlight, que tem como intuito o lançamento de novos cineastas, outros absurdamente antiéticos como Temptation Island que torce para que haja traição entre casais, e o famosíssimo e vergonhoso The Bachelor, programa que escolhe uma noiva para um solteiro... Mas Reality TV? Seriously?
Pessoas ordinárias em situações extraordinárias não me parece realidade. Quando que você imaginaria o porteiro do seu prédio sendo considerado um grande inventor? ou o diretor de seu colégio fazendo um Makeover para agradar sua mulher? Ou a sua vizinha sendo escolhida entra 50 moças para se casar com um milionário? Ou aquela moça que canta no barzinho do lado lançando um cd com o selo American Idol? Nunca...
Mas é essa a realidade que faz sucesso e a gente compra. é essa a realidade que a gente quer ver, que a gente sofre junto mas que a gente, secretamente, deseja que o outro se ferre...São pessoas reais que conseguiram estar lá ao invés de você. É por isso que a gente prefere essa realidade à da Família Loud...Por que na família Loud nós temos divóricios e homossexualidade...coisas que não acontecem tão normalmente quanto cobras subindo em nossas cabeças ou celebridades dançando com a gente.

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1 Comments:

At 11:50 PM, Anonymous Anônimo said...

Pequena!!! que demais!!!!
se nao fosse pelo ultimo paragrafo voce teria feito um dos melhores textos sobre reality tv que eu ja li!!!
nós compramos nao pode ser a razao pra isso existir!!
voce deveria continuar esse blog..

 

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